RESUMO: Nesta pesquisa, objetivamos compreender como os sujeitos e sujeitas que enunciam sobre a virgindade têm suas subjetividades constituídas e materializadas no corpo. Tomamos como corpus audivisualidades na qualidade de vídeos de curta duração veiculados no youtube, em um recorte temporal de sete anos, compreendidos entre 2011 e 2018. Dentre os sujeitos e sujeitas que enunciam nos vídeos encontram-se meninas heterossexuais, meninos heterossexuais e meninos homossexuais, fato que justifica a separação do corpus em três categorias e demonstra que a temática virgindade é tão atual no que tange à sexualidade e abrange, inclusive, a demanda de uma diversidade social. Para essa análise, consideramos o arcabouço teórico-metodológico de Michel Foucault, sob o qual foi empreendido escavações arqueogenealógicas no universo cyber virtual, uma vez que a perspectiva arqueológica pressupõe acessar o arquivo histórico dos enunciados, além de recuperar microacontecimentos e suas instâncias de ruptura aliadas à tática genealógica, para assim, analisarmos o funcionamento discursivo do saber e do poder. Dessa maneira, apresentamos um mapeamento no que tange: a) às regularidades audiovisuais materializadas nos discursos dos sujeitos enunciadores; b) ao estabelecimento do encadeamento de ideias através da seriação dos acontecimentos; c) às condições de possibilidade de emergência dos discursos sobre ser virgem nos vídeos. Para tanto, partimos dos seguintes questionamentos: quem são os sujeitos e sujeitas que enunciam sobre a virgindade? Como o corpo e o discurso materializam saberes que constituem a subjetividade do ‘ser virgem’ no youtube enquanto espaço de visibilidade para o interditado? Essas questões coadunam com a proposta desse estudo por revelarem um jogo de relações entre língua e corpo, relacionadas à problematização da virgindade como um fator social e histórico, intrincada a uma gama de saberes em torno da prática sexual e das relações de poder institucionais sobre o sujeito, materializados discursivamente nas formas de enunciar do sujeito virgem por meio do próprio corpo. Entre os resultados da seriação dos discursos obtivemos a polarização discursiva acerca da ética de si e das condições de possibilidade que justificam os enunciados, a saber: a reatualização do discurso moral do estoicismo, que atravessa as falas dos sujeitos cristãos da atualidade, bem como dos sujeitos
inscritos em lugares de saber que dispersam discursos da mesma ordem; e, em oposição, o discurso da prática de si enunciado por sujeitos de categorias diferentes e técnicas de governamentalidade específicas que não visam atender a ordens específicas de saber e de poder, mas a necessidades próprias. Concluímos, portanto, a partir da análise, descrição e problematização dos discursos e dos saberes dispersos sobre a virgindade, que o problema dos corpos transcende as técnicas de governamentalidade e deságua na virgindade enquanto prática e conhecimento de si. Em suma, observamos que a virgindade é reinventada e emerge na atualidade como lugar de coerção e subjetividade do ‘ser virgem’.
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